Repartidas entre os matutos

Elisée Reclus [1]

Caipira picando fumo, Almeida Júnior, 1893

Perpetuaram-se quanto á divisão do solo as tradições do antigo Brasil monárquico. Os reis haviam a principio repartido a terra em grandes feudos ou capitanias, e mais tarde, quando a propriedade directa de todo o territorio voltou ao poder real, distribuiu este as propriedades a seu talante concedendo sesmarias em geral muito extensas: a nação só possui pouquíssimas terra devoluta, ao passo que um pequeno número de proprietários possuem enormes terrenos, cujo limite nem conhecem. Certa propriedade, ainda nos logares de mais vasta população, ocupam léguas quadrada de superfície, e os donos, que não podem achar o braço necessarios para explorar tão vastos dominios, queixam-se sempre da falta de trabalhadores. O trabalho far-se-ia quiçá melllor, se essas regiões fecundas, que um só possui, fossem repartidas entre os matutos ou pequenos lavradores. Após a abolição da escravatura, quando o fazendeiros viram que todo os negros fugiam da suas fazendas, acusaram-nos de preguiça; ma é que os negros fartos de trabalhar para um senhor, retiraram-se para outro sítios onde vivem com sua familia e alguns animais domésticos, cultivando o seu pequeno campo de bananeiras, de feijão e mandioca, sem desprezar as flores de jardim [2]. Muitos dos antigos escravos voltaram depois para depois para as primitivas fazendas onde nasceram.

Negro e negra numa fazenda, Johann Rugendas, 1835


Notas

[1] RECLUS, Elisée. Estados Unidos do Brazil: geographia, etnographia, estatistica. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor, 1900.

[2] WELLS, James. Three thousands miles through Brazil.

Comentários

Postagens mais visitadas